quinta-feira, 27 de maio de 2010

A Arrábida

Agora, que de todo despedido
nesta Serra d'Arrábida me vejo,
de tudo quanto mal tinha entendido.
Com mais quietação livre me desejo
nela eu próprio cavar a sepultura,
que não junto do Lima, nem do Tejo,
Aqui com mais suave compostura,
menos contradição, mais clara vista
verei o Creador na criatura.

Frei Agostinho da Cruz

terça-feira, 25 de maio de 2010

Do poeta da Arrábida à Poetisa do Alentejo


Florbela

(em sua memória)


Sou eu, Florbela! Aquele que buscaste.

Falam de mim Teus versos de Menina.

Tua boca p'ra mim se abriu, divina,

mas foi só o Luar que Tu beijaste.



Hás-de voltar, Florbela!… Em débil haste,

por entre os trigos cresce, purpurina,

a mais fresca papoila da campina

que, só por me veres, não cortaste.



Eu tenho três mil anos: sou Poeta.

Surgi dos lábios secos dum asceta,

de uma oração que Deus deixou de parte.

Redimi tantos corpos, tantas vidas



neles vivi, que sinto já nascidas

asas com que subir para alcançar-Te

(…)


Arrábida, 6-11-1943

Entre cacos e pedras

Excerto de romance inacabado, escrito, em 1997, por Manuel Calado. Premonitório.