terça-feira, 23 de novembro de 2010

Idade do Bronze na Arrábida: um novo povoado

Povoado do Bronze final, inédito, localizado na cumeada da serra da Arrábida, a uma cota de cerca dee 400 m a.n.m. Trata-se de um típico povoado de altura, com elevada defensabilidade natural, dos lados Norte e Oeste. Nos lados Sul e Nascente, muito menos escarpados, conservam-se restos de um potente sistema defensivo que actualmente se apresenta como um cordão de pedras solta, embora sejam visíveis alguns troços de faces de muro. Não foi possível, no estado actual da estrutura, avaliar a respectiva espessura, uma vez que, só com escavação seria possível observar a face interna.
O sítio foi identificado por João Ventura e António Carvalho, tendo sido entretanto objecto de várias inspecções, tendo em vista a confirmação da cronologia do sítio.
O povoado do Valongo, como o baptizámos, dista cerca de 2,5 km do Castelo dos Mouros e cerca de 3 km do povoado do Cabeço da Sela (ou Cela?). Estes 3 sítios parecem fazer parte de um sistema estruturado, uma vez que ocupam posições algo complementares: o Valongo instalou-se no topo da serra, com visibilidade para o litoral e para o interior; o esporão do Castelo dos Mouros domina o vale a Norte da serra, de costas para o mar; o Cabeço da Sela, num esporão que se destaca da vertente oposta, em um povoado virado ao mar, certamente a cavalo da excelente enseada do Portinho da Arrábida.
Todos eles, em qualquer caso, têm que ser pensados numa rede de povoamento coerente, em que o elemento mais destacado é certamente o grande povoado do Risco/Marmitas, que ocupa uma área excepcionalmente ampla (cerca de 100 ha), na meia encosta das pequenas elevações que circundam o Vale do Risco, desenhando um arco de círculo em volta deste vale e adossado, nas extremidades, à própria serra do Risco.
A relativa proximidade daqueles 3 sítios de altura, permite considerar, por ora, a hipótese de ainda haver outros por identificar, nas áreas de mais difícil acesso da serra.
Convém, ainda, ter em conta, na definição do sistema de povoamento regional, para os finais da Idade do Bronze, a própria cidade de Setúbal. Nesse caso, porém, escasseiam os dados que permitam ter uma ideia da dimensão da respectiva área. A todo este complexo, importa somar as ocorrências de sítios de natureza ritual, em várias grutas da região (Furada, Lapa do Fumo...) e o único sítio funerário, aliás excepcional a muitos títulos, que é a Roça do Casal do Meio.





Cabeço da Sela: um velho povoado da Idade do Bronze

Povoado protohistórico, identificado há mais de um século por Marques da Costa, mas só classificado como calcolítico. Trata-se, efectivamente de um sítio do Bronze final.
Localiza-se num esporão com excelentes condições naturais de defesa, ondfe não se vislumbram, porém, indícios de estruturas defensivas artificiais.
A ocupação teve lugar na plataforma aplanada do topo do esporão e, aparentemente, também em alguns abrigos formados pelos paredões subverticais que delimitam a plataforma pelo lado NE.
No topo, existem restos de estruturas e foram identificadas duas cavidades cujo desenvolvimento resta averiguar (necessitam de operações de desobstrução).
Faz parte de uma rede de povoamento do Bronze final (cerca de 3000 anos) em que se enquadram outros sítios (povoados e grutas) recentemente descobertos.

 


A Grande Fenda do Portinho

Um percurso incrível pelo interior da Arrábida. Centenas de metros de extensão, com um progressivo estreitamento no Sector Leste e, no Sector Oeste, algumas áreas mais amplas, de fácil circulação e estacionamento (onde identificámos fragmentos de cerâmica manual, provavelmente da Idade do Bronze).
Mais imagens: aqui


Micoespeleoarqueologia da Arrábida
















segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Archaeology likes nature







Lugares de recolhimento

Ruinas de construção de época e funcionalidade incerta. São dois compartimentos de plantas de cantos arredondados, anexos, um deles com o interior dos muros colmatado.
Podem ser estruturas de tipo pastoril, ou estarem relacionadas com a intensa ocupação monástica da serra.
Não foram observados materiais.



O Abrigo do Monte Abraão

Foi feita uma prospecção exploratória ao longo de um caminho tradicional, um carreiro que ligava o Convento da Arrábida ao El Carmen e ao Vale do Risco. Um trajecto que permite apreender a grandiosidade da Arrábida como paisagem natural de alto nível...
O objectivo foi a localização com GPS e a observação e descrição do local, numa dupla perspectiva: espelológica e arqueológica, de um abrigo rochoso que designámos como do Monte Abraão.

Foram observados alguns fragmentos pouco característicos, de cerâmica de roda.

A beleza do coberto vegetal, numa topografia movimentada e tendo como pano de fundo o mar e a foz do Sado, valeu o esforço









Os algares do Portinho

Nas prospecções espeleológicas desenvolvidas no âmbito do Projecto de Carta Arqueológica de Setúbal, está em curso um trabalho sistemático de identificação, registo e interpretação de um interessante complexo de cavidades, localizadas na base do Cabeço da Sela, onde se localizam os restos de um povoado da Idade do Bronze, com cerca de 3000 anos. Esse povoado foi publicado no início do séc. XX pelo investigador Marques da Costa, embora erronramente identificada, em termos cronológicos.
O referido complexo consiste numa sequência de algares verticais, com abatimentos entre eles formando depressões mais ou menos extensas, que se dsenvolve ao longo de, pelo menos, 200 m, paralelamente à linha de costa. Esses poços abrem ao nível do mar, criando uma série de galerias parcialmente interligadas.
Numa delas, foram identificados materiais da Idade do Bronze que, atendendo à topografia, não podiam ter sido arrastados a partir do topo do Cabeço da Sela.
Está em curso o levantamento topográfico integral destas cavidades, tendo em vista uma melhor visão de conjunto e uma melhor aproximação, em termos interpretativos...

  
O responsável pelos trabalhos de prospecção espeleológica

Uma cratera de abatimento do espaço entre os algares.

Algares interligados

O acesso à linha de água

Uma janela sobre a Pedra da Anicha

De baixo para cima



                                                A dança das taínhas, na base dos poços.

O Portinho da Arrábida, para além da excelente qualidade cénica que o torna uma jóia paisagística só por si, tem ocultas outras paisagens, menos conhecidas e, algumas delas, difíceis de conhecer.
Os Algares do Portinho, tal como fabulosa Fenda, do outro lado da enseada, são paisagens de altíssimo valor como património Natural. Em diálogo obrigatório com o povoado da Idade do Bronze.