segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

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O Castelo dos Mouros é um símbolo forte da ideologia guerreira dos seus construtores. Recorde-se que as elites do Bronze Final, há cerca de 3000 anos, se faziam representar nas estelas funerárias como guerreiros empunhando armas ou até mesmo apenas pelas armas (mais o espelho, o pente e a fíbula...).
Construir uma muralha sólida, numa ladeira extremamente inclinada, foi certamente uma obra notável. Visualmente, o castelo era um marco muito conspícuo na paisagem a Norte da Arrábida, alcandorado sobre os campos de Azeitão.
A encosta Norte, num dos troços mais intransponíveis. A circulação só é praticável, quer na vertical, quer na horizontal, pelos bordos das placas calcárias.

A entrada NE do Castelo dos Mouros: perigosa, mas viável. Na base desta rampa, observam-se vestígios de uma eventual estrutura defensiva.

A encosta Norte, num dos troços transponíveis, com vestígios de agenciamento de um "caminho" aproveitando os topos das placas calcárias.

O acesso actual ao Castelo dos Mouros mantém, provavelmente, o traçado de um dos acessos proto-históricos. Em alguns pontos são notórios os agenciamentos.

O cume: a face Sul do penhasco, de perfil vertical, faz um ângulo agudo com a face Norte, com elevado declive, seguindo as camadas calcárias. 
Megalitismo extravagante: grande bloco calcário levantado, por razões desconhecidas.

O bloco "megalítico" ergue-se junto à beira do paredão vertical.

Outro bloco "megalítico" remobilizado.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Castelo dos Mouros

O Castelo dos Mouros é o mais espectacular dos povoados da Idade do Bronze da Arrábida.
Trata-se de um esporão rochoso ,de perfil assimétrico, delimitado a Sul por um paredão vertical que atinge vários metros de altura e, a Norte, por uma encosta de rocha nua, muito inclinada.
A reforçar a inexpugnabilidade do sítio, há evidência de um circuito de muralhas em que, sobretudo do lado Norte, foi usado um aparelho de carácter ciclópico.
No lado Sul, a muralha atingia 1, 75 m de largura e a face externa da mesma continuava, para cima, a superfície do paredão.
No lado Norte, a muralha criou , na meia encosta, um patamar relativamente plano, onde ocorrem abundantes restos de cerâmica.
São visíveis 3 entradas no recinto fortificado: uma, no lado Sul, aproveitando uma lacuna no esporão, de provável origem tectónica.
No lado Norte, com uma interrupção na muralha de cerca de 1 m de largura.
Na extremidade SE, parece haver um acesso natural relativamente fácil, junto ao qual foi aparentemente construida uma estrutura defensiva.
Muito interessante também o poço que se localiza junto à entrada Sul: apresenta um perfil ligeiramente oblíquo, e encontra-se parcialmente colmatado, apesar de ainda apresentar hoje uns 7-8 m de profundidade.
A cavidade cársica aberta na base do paredão é por outro lado, um elemento paisagístico com elevado potencial simbólico.  


Texto de Joaquim Rasteiro, de 1897.

Vista para Leste, a partir do topo do povoado

Fragmentos de cerâmica, à superfície

Entrada de cavidade cársica, na base do paredão Sul.

Sala no interior da referida cavidade

Detalhe da muralha, no lado Sul, construida no prolongamento do paredão.

Detalhe da face da muralha no lado Sul

Detalhe da face da muralha no lado Sul


 Detalhe do topo da muralha no lado Sul, com ambas as faces visíveis.

Detalhe do aparelho "ciclópico", do lado Norte.

Detalhe do aparelho "ciclópico", do lado Norte.

Detalhe do aparelho "ciclópico", do lado Norte.

O talude, junto à muralha do lado Norte

A porta, do lado Sul, vista de dentro para fora

A porta, do lado Sul, vista de fora para dentro


A entrada do poço

O poço, junto à entrada do lado Sul.



domingo, 5 de dezembro de 2010

O segredo é amar

«(a Frei Diogo Crespo)

O mais difícil não é ir à Arrábida, porque no Verão há carreiras de camionetas, no Inverno

há em Azeitão táxis ou carroças ou jeriquinhos tão prestáveis; como os da Cacilhas de antigamente, e de Janeiro a Dezembro, para muita e muito boa gente, há duas pernas vigorosas e de boa vontade que fazem transpor, a Serra pelo Vale do Picheleiro. Difícil, difícil, é entendê- la: porque boas praias, boas sombras e boas vistas há-as em toda a parte para os bons banhistas, os bons amigos de bem-comer, os bons turistas; o que não há em toda a parte é a religiosidade que dá à Serra da Arrábida elevação e sentido. Sabe-se lá se o alor místico lhe vem da origem, se lho deixaram - inefável herança! - os franciscanos do seu Convento?... Mas é fora de dúvida que o visitante, se o não apreendeu, saiu da Arrábida sem sequer ter entrado nela verdadeiramente!

Vá sozinho, suba ao Convento, que é onde o espírito da Serra converge e como que ganha forma, leve, se quiser, os versos de Agostinho (bem-aventurado, que no-lo editou, o Professor Mendes dos Remédios!) e experimente como afinal é fácil estar a sós com Deus.

Quando, de rosado, começa a arroxear-se o horizonte, a Serra é um vulto de sombra parado a meio do silêncio. Pios de ave, como goteiras, piguelingam de quando em quando e de onde a onde - e damos então mais consciente notícia do grande silêncio. Dizemos:

Assim com cousas mudas conversando, com mais quietação delas aprendo que outras que há, ensinar querem falando.

Se a Lua surgir, o mato começa a desenhar no chão arabescos que já sabemos ler; empalidece mais o Convento e nós, compenetrados da beleza divina (ou franciscana?) das coisas, somos a grande porta que se fecha sobre a Serra para a Serra dormir, pela noite longa e azulada de Estrelas, na sua, meditação que já dura séculos.

O Céu fica-lhe perto: Bastaria acordar a meio da noite... Bastaria, para que Deus a ouvisse, sonhar alto um verso de Frei Agostinho, dos muitos que ele rezou e ela sabe de cor...»


Sebastião da Gama


O Segredo é Amar”, 1969